Santa Cruz do Sul – Uma estimativa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que, durante o último ano, o segmento do varejo deixou de faturar R$ 103 bilhões com o gasto das famílias com apostas esportivas e cassinos on-line, comumente chamados de Bets. O levantamento “Panorama das Bets”, leva em consideração dados disponibilizados pelo Banco Central ao revelarem que no último ano, os brasileiros destinaram R$ 240 bilhões para apostas eletrônicas.
Os dados revelados pelo estudo mostram ainda que, além do esvaziamento de recursos no varejo, a prática de apostas e jogos eletrônicos elevaram, inclusive, os índices de endividamento e inadimplência em todo o país no ano passado. Conforme a CNC, cerca de 1,8 milhão de brasileiros fecharam o ano de 2024 em situação de inadimplência por conta dos gastos com as Bets, não restrito apenas às famílias de baixa renda.
Conforme apurou a equipe econômica da Confederação, há crescimento da inadimplência nos grupos familiares cuja renda é de 3 a 5 salários mínimos, que encerraram o ano de 2024 com um percentual de 29% de inadimplência no país. Inicialmente, a preocupação se concentrava sobre os usuários do programa Bolsa Família, após a divulgação do Banco Central, em setembro do ano passado, quando haviam sido movimentados, por meio dos recursos do programa, R$ 3 bilhões para o gasto com apostas eletrônicas. No entanto, segundo a CNC, o avanço da prática começa a impactar outros grupos de consumidores, situação que eleva ainda mais a preocupação do segmento varejo com a prática.
O presidente da Federação da Associação Gaúcha do Varejo (FAGV) Vilson Nailor Noer reforça que além da questão financeira, o gasto com apostas eletrônicas interfere na saúde mental dos apostadores, causando vício, ou até mesmo uma compulsão pelos jogos e apostas, motivados pelos prêmios e benefícios oferecidos pelas Bets. “Esta situação afeta o consumidor e até mesmo os trabalhadores do varejo, que desviam atenção da venda para a prática de apostas e jogos eletrônicos durante o próprio horário de trabalho. Seguimos muito preocupados com esta situação, especialmente após a mensuração dos gastos, apontados pelo relatório da CNC”, destaca.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Santa Cruz do Sul e Região (Sindilojas-VRP) Mauro Spode, o tema segue na pauta de debate e atenção da entidade, especialmente por conta do aumento da inadimplência no município, um dos fatores apontados pela confederação como resultantes das apostas e jogos on-line. De acordo com dados da Equifax/Boa Vista, base de dados utilizada pela entidade, o índice de inadimplência em Santa Cruz do Sul encerrou o ano de 2024 na faixa dos 30,19% – 8,98% a mais – na comparação com o índice medido em dezembro de 2023, que foi de 27,7%. “Existem fatores naturais, como as enchentes de maio que podem ter contribuído para isso, mas, no entanto, entendemos que a presença dos jogos e apostas nestas plataformas podem ter uma contribuição para este resultado negativo no que se refere ao crédito e a restrição dele, por conta da inadimplência que cresceu”, destaca.
Segundo o dirigente, a intenção do Sindilojas-VRP é manter vivo o debate regional, atuando diretamente com seus associados para poder quantificar as possíveis perdas, tanto no campo financeiro, quanto na área da saúde pública, como aponta a federação gaúcha, ao ressaltar que a prática pode levar os usuários ao vício de apostas e jogos eletrônicos. “Precisamos agir, enquanto segmento, para tentar ao máximo esclarecer a população sobre os riscos, que podem promover a desorganização financeira, ou até mesmo, comprometer a saúde dos apostadores, na recorrência ao uso das plataformas conhecidas como Bets”, complementa Mauro Spode.