Mesmo com três quedas consecutivas na margem mensal, o percentual de famílias do Rio Grande do Sul inadimplentes – ou seja, com alguma conta em atraso – registra a segunda maior alta do país em um ano. Atrás apenas da Bahia, o RS somou, nos 12 meses encerrados em outubro, 12,6 pontos percentuais de alta no indicador, que atinge, agora, 36,8% dos lares, ante 24,2% em igual período do ano passado.
O índice de famílias inadimplentes no RS é o oitavo maior entre os Estados do Brasil. A pesquisa é da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), com base em dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O estudo também aponta aumento do endividamento, que agora chega a 91,9% dos lares do RS, ante 84,2% em setembro. Diferentemente do primeiro, esse indicador inclui aqueles que possuem operações (cheque pré- datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa, etc.), mas que não têm contas em atraso.
Economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo comenta que, historicamente, os gaúchos utilizam o crédito como ferramenta para financiar consumo e investimento, e não somente em situações de aperto. Nesse contexto, avalia que é “razoável” esperar, de economias com renda média maior, maiores contratações de crédito.
– Muitas vezes, é um momento bom que motiva o crédito. Quando se tem certeza de renda futura, antecipa-se essa renda. Acontece nas economias que contam com maturidade financeira – analisa.
Por outro lado, assinala Patrícia, esse movimento lança um contingente elevado de pessoas para situações de potencial inadimplência. Segundo a economista, nos últimos meses houve evolução desfavorável aos orçamentos familiares, em razão da inflação e dos juros, o que resultou em menor capacidade de arcar com o consumo presente ou com as dívidas assumidas.
Trajetória
Apesar do nível da inadimplência no RS, há trajetória de redução nos percentuais de contas em atraso. Em julho, 40,6% das famílias estavam inadimplentes, contra 39,4% em agosto, 37,8% em setembro e os 36,8% de outubro.
Esse movimento coincide com a melhora do mercado de trabalho, o ganho de massa salarial, as transferências de renda e a retração do quadro inflacionário.
De acordo com a mesma base de dados, em 48,2% dos casos, o tempo de atraso chega a 30 dias. Em 40,8%, até 90. Além disso, em mais de dois terços dos lares do RS, as dívidas – não apenas as atrasadas – comprometem de 11% a 50% da renda.
Reflexos
Para o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, situações de muito atraso em menor tempo apontam um perfil mais tranquilo, porém, quanto maior o alongamento dos prazos de inadimplência, mais complicado é o quadro. Ressalta que a permanência da inadimplência em grau elevado traz consequências para a atividade econômica como um todo.
– Quando a inadimplência começa a atingir valores elevados serve como freio para o consumo das famílias, que é o grande motor da economia. Com esse gargalo é natural projetar impacto sobre a estrutura econômica, menos consumo, menos crédito, investimentos e contratações – observa.
Fonte: Zero Hora