O aumento reflete a combinação da deflação com a ampliação do emprego formal
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) avançou 2,1% no mês de outubro, o nono crescimento consecutivo na série com ajuste sazonal. Com isso, a ICF, apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), alcançou 87 pontos. Apesar de ainda permanecer abaixo dos 100 pontos, na zona de insatisfação, o índice está em trajetória ascendente e cresceu 18,9% em relação a outubro de 2021, a maior taxa da história do indicador. Nesse sentido, se destacou a percepção sobre o nível de consumo atual que atingiu aumento de 4,1%, maior alta entre todos os indicadores da ICF. “O resultado positivo é produto da combinação da deflação com crescimento do emprego formal, das transferências de renda e da facilitação da contratação de crédito”, pontua o presidente da CNC, José Roberto Tadros, em nota.
Mais sensíveis às variações da inflação, as famílias com renda de até 10 salários mínimos apontaram o maior aumento da intenção de consumir, tanto no mês quanto no ano. Ainda assim, o indicador para esse grupo permanece no quadrante negativo, com 83,5 pontos e 12,6 pontos abaixo do nível anterior à pandemia. A intenção de consumo avançou menos para as famílias que ganham mais de 10 salários mínimos, mas o índice em 104 pontos revela maior satisfação desse grupo do que entre os consumidores de menor renda.
Deflação em alimentos e transportes
No total de consumidores entrevistados pela CNC, 31,8% avaliaram a renda atual como melhor do que no ano passado, maior percentual desde abril de 2020, quando o índice chegou a 35,8%. Entre as famílias de rendas média e baixa, a satisfação com a renda atual avançou 2,4%, acima das famílias consideradas mais ricas, que foi de 1,2%. A economista da CNC responsável pela ICF, Izis Ferreira, explica que a melhora da avaliação da renda é resultado do recuo recente na inflação, que pesa mais sobre as famílias com vencimentos menores. A inflação desagregada por faixa de renda, segundo recortes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou em setembro o terceiro mês seguido de redução (-0,29%) para os consumidores nos grupos de rendas média e baixa, com maiores quedas em alimentos e bebidas (-0,11%) e transportes (-0,41%). “Apesar dessas reduções, a maior contribuição para a alta do IPCA no ano foi do grupo de alimentos e bebidas, um dos itens mais representativos nos orçamentos das famílias de renda baixa”, analisa Izis Ferreira. Conforme ela, esses consumidores ainda se mantêm cautelosos, com idas mais frequentes aos supermercados e ampliação da busca por ofertas.
A perspectiva de consumir nos próximos meses avançou 2,5% em outubro, mas subiu 3,5% entre as famílias consideradas mais ricas, enquanto para o conjunto de menor renda o aumento foi de 2,2%. Embora o indicador tenha crescido para os dois grupos, ambos ainda estão na zona de insatisfação. “A inflação, mesmo em queda, ainda dificulta o consumo, e o maior nível de endividamento das famílias também reduz a capacidade futura de compras, especialmente das famílias de rendas média e baixa”, aponta Izis. Os consumidores também avaliaram que o acesso ao crédito está mais fácil – o indicador avançou 1,9% no mês, nas duas faixas de renda. No entanto, em um ano, o índice cresceu em intensidade maior entre o grupo com rendas média e baixa, alta de 10,6%. Isso, segundo a economista, decorre porque, mesmo com o crédito mais caro em razão da alta dos juros, essas famílias têm contratado mais empréstimos como forma de sustentar o consumo, tanto que o endividamento tem crescido mais nesse grupo.
Legenda foto da capa: “Mais sensíveis às variações da inflação, as famílias com renda de até 10 salários mínimos apontaram o maior aumento da intenção de consumir, tanto no mês quanto no ano”
Revista Amanhã – 20/10/2022