Meios eletrônicos de pagamento avançam e dinheiro em espécie perde espaço

A digitalização do mercado vem evoluindo rapidamente. Se até pouco tempo, a maior parte das transações comerciais eram baseadas no uso de papel moeda, de cheque e, em menor medida, de cartão de crédito, a realidade hoje é bem diferente. Soluções como o Pix e as carteiras digitais caíram definitivamente no gosto dos brasileiros e novas ferramentas e tecnologias surgem a fim de suprir a demanda por maior agilidade, segurança e, é claro, aumento no volume de transações. Para os empreendedores, acompanhar as tendências nessa área e oferecer diversas possibilidades de transações se tornou essencial para o sucesso do negócio.

Cada vez mais estabelecimentos aceitam formas eletrônicas para receber os valores dos clientes
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Para se ter a dimensão do avanço dos meios eletrônicos de pagamento, basta pensar sobre os hábitos de pagamento. Quando foi a última vez que você preencheu um cheque? E quando precisou realizar um pagamento em dinheiro por que o estabelecimento não aceitava outro formato? Provavelmente a resposta para pelo menos uma das perguntas vai revelar que a maior parte das transações realizadas no seu dia a dia inclui meios digitais de pagamentos.

Esta evolução está intrinsecamente ligada às novas formas de consumo. O e-commerce está cada vez mais presente em no dia a dia e tornou possível comprar os mais diversos itens pela internet em instantes. Estima-se que, em 10 anos, as vendas online no Brasil tenham passado de um faturamento de R$ 22,5 bilhões em 2012 para R$ 169 bilhões em 2022, de acordo com dados da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).

As compras pela internet seguem crescendo e, hoje, representam cerca de 10% de todo o segmento do varejo nacional, segundo levantamento da entidade sobre o fluxo de 2022. Para acompanhar esse fenômeno, os meios de pagamentos também tiveram de mudar.

Sebrae-RS destaca necessidade de adaptação
De acordo com o especialista em Finanças do Sebrae-RS, Rômulo Tevah, tanto os negócios online, que tiveram enorme crescimento nos últimos anos devido à pandemia da Covid-19, quanto os estabelecimentos físicos despertaram para a necessidade de oferecer diferentes possibilidades de compra aos clientes. “O fato de as empresas estarem fechadas e terem de partir de forma rápida e simplificada para o online obrigou os empreendedores a adaptar também suas formas de receber dos clientes. Empresas que não estavam habituadas ou preferiam modelos tradicionais, tiveram que se adaptar obrigatoriamente. E quem não acompanha as preferências do cliente corre sério risco de não fechar negócio”, destaca.

Com isso, novos formatos, como o Pix, rapidamente deixaram de ser tendência para se tornarem extremamente populares, tomando o lugar dos boletos bancários e até mesmo de cartões de débito e crédito. Em 2022, enquanto a movimentação dos cartões de débito cresceu 7,4% e atingiu R$ 992,4 bilhões, o Pix alcançou R$ 10,9 trilhões em transações, mais do que o dobro do valor registrado em 2021, segundo dados do Banco Central (BC).

Lançado em novembro de 2020, esse modelo de transferência imediata sem a cobrança de taxas caiu rápida e definitivamente no gosto dos brasileiros. Pouco mais de dois anos depois, em março ultrapassou a marca de 146 milhões de usuários e já conta com 501 milhões de chaves, de acordo com as mais recentes estatísticas do Banco Central (BC). A maior parte dos usuários têm entre 20 e 39 anos, mas percebe-se adesão entre todas as idades.

Contudo, o papel moeda segue relevante, salienta Tevah. Apesar da disseminação desta transferência bancária facilitada e de fintechs, cerca de 20% da população adulta brasileira não têm conta bancária. Soma-se a isso o fato de que o brasileiro em geral ainda enfrenta grande dificuldade no acesso ao crédito ou conta com limites relativamente baixos.

É preciso conhecer o cliente de forma efetiva
Pensando nessa complexidade, a dica mais importante dada por Tevah a quem procura o Sebrae-RS é: conheça o seu cliente de verdade. “É importante que todo lojista esteja olhando para as tendências, entenda o que está acontecendo no mercado e avalie de acordo com o seu negócio. Faça uma reflexão se o meio de pagamento vai ser utilizado pelo perfil de público que atende ou se trará algum tipo de diferenciação.”

Meios de pagamento são extremamente relacionados à cultura local e à realidade socioeconômica do território em que cada negócio está inserido, por isso, não adianta, por exemplo, aceitar criptomoedas no caso de um pequeno negócio de bairro. “Já para uma média empresa, cujos principais clientes se interessem por esse tipo de investimento, aceitar bitcoins pode ser um atrativo”, salienta o especialista.

Os pagamentos com carteiras digitais, virtualmente ou com aproximação no meio físico, através de aplicativos que permitem às pessoas quitarem as contas com o celular, também ganharam espaço após a pandemia e vieram para ficar. As carteira digitais são utilizadas por 31,8% dos brasileiros nas compras a prazo, de acordo com levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. Conforme o estudo Beyond Borders 2022/2023, realizado pela fintech brasileira EBANX, as carteiras digitais devem expandir cerca de 20% ao ano até 2025 no comércio digital da América Latina.

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Seis vantagens de oferecer diferentes modelos de pagamento

1 Agilidade
Sem dúvidas, um dos principais benefícios de um meio de pagamento digital é a rapidez com que a transação ocorre. Com exceções das transações negadas, que exigem novas tentativas no pagamento, é muito mais rápido pagar pelo computador ou smartphone para concluir a compra.

2 Atender clientes sem conta bancária ou sem limite
Levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva indica que cerca de 20% dos brasileiros não têm conta em banco ou usam pouco. Com isso, oferecer métodos de pagamento e parcelamento diferenciados, como boletos, pode ser um movimento inteligente para atender essas pessoas.

3 Segurança
Os meios digitais seguem protocolos de segurança cada vez mais rígidos e protegidos por criptografias. Sendo assim, utilizá-los torna o processo de compra mais seguro, tanto para clientes quanto para os empresários.

4 Menores custos
É possível negociar tarifas diretamente com adquirentes para conseguir condições melhores. Meios de pagamentos diversificados, especialmente os digitais, possibilitam automatizar processos e consequentemente reduzir gastos e horas de trabalho.

5 Taxa maior de conversão
Um estudo realizado pelo Instituto Baymart revelou que um em cada 10 clientes desiste de uma compra por não ter acesso a métodos de pagamento suficientes. Dados que reforçam ainda mais a necessidade das empresas expandirem suas formas de pagamento.

6 Conveniência
O pagamento é uma etapa fundamental do processo de compra e não apenas como uma consequência dele. Por isso, oferecer diferentes meios de pagamento são estratégias para poupar tempo e fidelizar os clientes.
Fonte: Sebrae/RS

Fim da comanda: tecnologia NFC entrega agilidade em eventos

Pulseira Cashless da Zig tem sido uma solução de pagamento usada em eventos e festivais, para dar acesso rápido e seguro ao público
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Uma nova solução promete acabar com as comandas de consumo em papel e longas filas de espera para atendimento em eventos. Uma funtech (empresa de tecnologia voltada ao mercado de entretenimento) brasileira com atuação mundial, a ZIG alia tecnologia e inovação para garantir a cobrança ágil e segura, evitando espera e oferecendo acompanhamento dos gastos em tempo real ao client via aplicativo.

Através de uma pulseira cashless ou de cartão pré-pago, ambos com tecnologia NFC embarcada (ferramenta de comunicação sem fio presente em diversos smartphones), é possível fazer a gestão da entrada e o pagamento de comidas e bebidas apenas por aproximação. Antes mesmo de sair de casa ou durante o evento, o usuário credita o valor a ser gasto pelo aplicativo. Ao fim da agenda, se restar saldo residual, é possível solicitar reembolso em website exclusivo do evento, sem burocracia.

Há, ainda, a opção de solução cashless pós-paga, na qual o cartão ou pulseira é entregue no local do evento e, após o check-in ser realizado, a comanda já estará ativa. Ao final, o pagamento pode ser feito nos caixas, totem de autoatendimento ou mesmo baixando o app. Com essa modalidade, de acordo com os CEOs da ZIG, Bruno Lindoso e Nérope Bulgarelli, o consumo aumenta em até 20%.

Lindoso e Bulgarelli ressaltam que as facilidades proporcionadas pela ferramenta via aplicativo permitem que o consumo aumente em até 20%
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O pagamento é feito antes do consumo, o que evita golpes e fraudes, e ainda conta com rastreabilidade completa, uma vez que o registro é feito com o CPF do cliente, eliminando transtornos causados pela perda da comanda. A empresa também garante que com isso os usuários gastam mais. Quem foi a festivais como o Rock In Rio, Lollapalooza e Oktoberfest Blumenau, com certeza fez uso o modelo facilitado de pagamentos. A solução também já vem sendo utilizada em casas de shows, bares e restaurantes, principalmente em São Paulo.

Resultado da fusão, em 2021, entre a netPDV e a ZigPay, duas pioneiras em cashless e soluções de pagamentos em entretenimento no país, o negócio superou o momento de interrupção de eventos presenciais e veio com força. No ano passado, movimentou aproximadamente R$ 2 bilhões e é projetado crescimento este ano, principalmente com a expansão a mais países.

Em 2023, a empresa espera dobrar de tamanho no mercado nacional e triplicar internacionalmente. “O Brasil é uma referência em pagamentos. Isso ajudou muito no desenvolvimento do nosso produto e nos torna hoje uma referência internacional. Nosso produto tem muito fit com o mercado global e vamos buscar ser o maior player global nos próximos anos em gestão de consumo no mercado de entretenimento ao vivo”, projeta David Pires, CPO da ZIG.

Buy Now Pay Later é novo modelo de pagamento a prazo que ganha espaço

Juana diz que a solução funciona como um ‘grande destravador de demanda’
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Um modelo de pagamento bastante utilizado no exterior começa a ganhar espaço no Brasil alavancado principalmente pela dificuldade na obtenção de crédito. O Buy Now Pay Later (BNPL, que na livre tradução significa Compre agora, pague depois) é basicamente um pagamento a prazo oferecido pelo estabelecimento comercial em que um provedor intermedia a compra de acordo com condições pré-definidas e personalizáveis.

A operação é bastante semelhante ao crediário, porém, no BNPL a análise e liberação do crédito é feita online baseada exclusivamente em informações básicas, como o número do CPF, o telefone e outros dados facilmente obtidos.

No crediário, a própria loja ou instituição financeira parceira faziam esse processo com base em seu banco de dados, o que acabava por impactar negativamente pessoas com nome em serviços de proteção ao crédito, por exemplo. O risco de inadimplência e fraude é assimilado pela operadora, por isso é importante que os consumidores fiquem atentos aos juros e taxas empregados.

No Brasil, trata-se ainda de uma grande novidade, porém, de acordo com Juana Torres Angelin, COO da Koin, empresa que oferece esse tipo de solução, há grandes oportunidades para expansão, principalmente quando se leva em conta o contexto econômico no País.

“As soluções de parcelamento da Koin funcionam como um grande destravador de demanda, fornecendo crédito a brasileiros que precisam parcelar e hoje enfrentam muitas burocracias com financeiras tradicionais. Para as empresas, aumentamos as taxas de conversão e, consequentemente, as vendas”, destaca.

Segundo Juana, entre julho e dezembro de 2022, a aceitação do BNPL subiu em torno de 10 pontos percentuais no Brasil, passando de 15,3% para 25,4%. Para 2023, as expectativas são ainda maiores. Conforme o estudo de mercado Beyond Borders a América Latina vem adotando cada vez mais soluções BNPL no comércio digital, seguindo um movimento global.

O mercado global segue dando espaço para essa forma alternativa de pagamento. Segundo relatório de Pagamentos Globais da WorldPay, em 2021, 2,9% das transações no comércio eletrônico foram realizadas com BNPL e até o final de 2023 a projeção é que esse número triplique, atingindo 9%.
A expectativa, conforme Juana, é que até 2026 sejam movimentados US$ 400 bilhões via essa modalidade em transações no comércio digital global.

Radar de tendências
SoftPOS – Em um mercado ainda dominado pelas maquininhas de cartão, uma outra solução vem ganhando espaço. A tecnologia SoftPOS permite que smartphones e tablets aceitem pagamentos via NFC e funcionem como terminais de pagamento sem nenhum hardware adicional. Segundo Romulo Tevah, do Sebrae/RS, a adesão ainda é pequena no Brasil, principalmente porque as empresas menores tendem a ser mais cautelosas e vagarosas em adotar novas tecnologias. “Mas o modelo é interessante e pode ser vantajoso, principalmente entre aqueles que ainda pagam taxas pelo uso das maquininhas tradicionais”.

Pix internacional – Sistema semelhante ao Pix brasileiro, desburocratizado e menos custoso, pode integrar 63 países e agilizar transações de importação e exportação. A ferramenta está sendo desenvolvida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) e já está em fase de testes integrando pagamentos da Malásia, Cingapura e Zona do Euro por meio do Banco da Itália.

Startup foca em recuperação de transações negadas

Nicolay, Vilhena e Garuti destacam importância da integração dos meios
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Mais de 20% das transações online no Brasil são recusadas por diversos motivos, que vão da ausência real de limite para compra até problemas técnicos de integração dos meios de pagamentos. Via de regra, o consumidor que tem a compra negada não tenta novamente, o que custa à indústria US$ 15 bilhões em vendas perdidas e à empresa vendedora a perda de um cliente para a concorrência.

Mesmo as startups e fintechs do setor financeiro, que incluem as empresas de meios de pagamentos, sendo um mercado em expansão, ainda existe um gargalo na parte técnica que prejudica várias empresas digitais: a dificuldade na integração de vários sistemas financeiros, como bancos e provedores de pagamentos, com sistemas antifraudes e outras funcionalidades.

Foi pensando nessas pedras no caminho do mercado de meios de pagamentos que um trio de amigos uniu suas experiências no setor para criar a Malga – startup focada em oferecer uma solução de integração para todos os tipos e tamanhos de negócios digitais. Em apenas um ano e meio de operação, os sócios Alex Vilhena (CEO), Thiago Garuti (COO) e Marcel Nicolay (CTO) conseguiram um crescimento de 400% desde a sua fundação.

“Ao longo dos anos trabalhando no setor de meio de pagamentos, observamos que a maior dificuldade dos clientes era integrar vários meios de pagamentos nos seus e-commerces. Além de serem caras, elas ainda não funcionavam bem e eram demoradas. Pesquisei e descobri que o Brasil tinha a pior taxa de aprovação de pagamentos e custos de transações da América Latina. Os custos eram, por exemplo, seis vezes maiores”, conta Alex Vilhena, CEO e cofundador da Malga.

Em junho de 2020, os sócios passaram quase um ano montando a plataforma inicial, que foi lançada em março de 2021. Em setembro, a startup brasileira participou de um processo de aceleração na Y Combinator – considerada uma das gigantes do Vale do Silício, nos EUA. Em novembro, ocorreu a segunda rodada de investimentos, com um aporte seed (investimento de recursos destinados a empresas e startups em crescimento inicial) de US$ 2,7 milhões, com a participação da QED, Verve Capital, Latitud e Norte Ventures. Já em 2022 houve nova rodada de investimentos, o que totalizou US$ 6,5 milhões, com a liderança da Costanoa. A fintech processa cerca de 400 mil pagamentos por mês, atualmente. A meta para 2023 é ainda mais ambiciosa, com a previsão de fechar o ano com R$ 2 bilhões em transações.

*Roberta Mello é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como repórter de Economia no Jornal do Comércio de 2013 a 2021, onde conquistou os prêmios B3 de Jornalismo – Categoria Demais Regiões (edição 2018) e Transparência de Jornalismo (2017). Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer.

Legenda foto da capa: “Novas tecnologias surgem rapidamente com foco na segurança da transação financeira”

Foto da capa: Freepik / Divulgação /JC

Roberta Mello, especial para o JC*
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Jornal do Comércio, 16/04/2023.

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