Mulheres apostam no digital na hora de empreender

Um dos destaques do RD Summit, evento de marketing e vendas realizado em Santa Catarina, foi o papel que mulheres vêm, cada vez mais, ocupando no ambiente digital, com foco no entretenimento

Bianca Andrade, mais conhecida como Boca Rosa, começou sua trajetória empreendedora dentro de casa, na Favela da Maré, no Rio de Janeiro. Hoje, além de influenciadora, ela tem uma marca de maquiagem e outra de produtos para cabelos. A receita do sucesso, que a levou a entrar na lista da Forbes das mulheres mais importantes do Brasil, foi engajar o público, justamente, através do entretenimento.

Tudo começou, em 2011, quando Bianca postou no Orkut uma foto da maquiagem que havia feito na mãe. Ela se sentiu tão realizada pelos comentários e pela autoestima gerada que continuou o trabalho nas amigas. Lançou um blog e depois de um tempo um canal no YouTube. Após um ano mostrando às pessoas sua paixão, conquistou um milhão de visualizações. “Percebi que quanto mais criativa eu era, mais as pessoas gostavam de mim”, lembra uma das primeiras influenciadoras do País.

Ao analisar o comportamento do público, criou seções, como “Primo baratinho” (de produtos mais acessíveis) e “Cara de Rica”. Além disso, em sua trajetória, está a criação de uma peça de teatro sobre sua carreira, que rodou o Brasil.

O entretenimento sempre foi um aliado de suas estratégias. Ao se destacar na internet, mas ainda uma iniciante no empreendedorismo, foi convidada a tomar café com a apresentadora Ana Maria Braga, para falar sobre seu canal no YouTube e virou consultora de beleza do programa É de Casa, da Rede Globo. Neste momento, criou seu produto de marca própria. “As pessoas ouvem mais o que você faz do que o que você fala”, avalia, sobre suas conquistas.

Em 2020, foi convidada para entrar no reality show Big Brother Brasil, o que alavancou ainda mais a sua imagem pessoal e a de sua empresa. Durante a pandemia, ela promoveu lives e sua última invenção foi uma linha inspirada no metaverso.

Uma das dicas que deu ao público durante o RD Summit, evento que participou recentemente em Santa Catarina, é investir em conteúdo e pensar a marca como se fosse uma pessoa. As empresas, segundo ela, têm que prever espaços nos escritórios para que isso aconteça. “Inovação é você estar pronto para se adaptar hoje. Se você não acompanha a era digital e se engessa pensando no futuro, ficará para trás”, acredita.

Psicóloga acumula cerca de 12 milhões de seguidores nas redes sociais

A Pequena Lo é formada em Psicologia, mas trabalha produzindo conteúdos para a internet, com foco na comédia Foto: RD Summit/Divulgação/JC

A influenciadora Lorrane Silva, a Pequena Lo, capa da revista Vogue de outubro, mudou o rumo de sua carreira para apostar no entretenimento pela internet. Formada em Psicologia, em 2015 ela começou a postar vídeos no YouTube para falar sobre uma deficiência que a impediu de crescer. Mas foi em 2020, no entanto, que ela estourou nas redes sociais. Hoje, somando as diversas plataformas que usa, é seguida por cerca de 12 milhões de pessoas.

“Fazer rir é terapêutico”, brincou ao palestrar no RD Summit, ao comparar a vida de comediante com sua área de atuação. Ela chegou a pensar em trabalhar na área de Psicologia, mas o sucesso virtual foi tanto que diz “não ter tempo nem para chorar”.

O estouro foi, principalmente, por conta do TikTok. Entre seus vídeos mais famosos, está uma encenação de como seria se participasse da série High School Musical e como as pessoas reagem quando são filmadas em casamentos. Brincalhona, hoje ela roda o Brasil dando palestras, virou apresentadora e faz publicidade para diversas marcas, sempre acompanhada de sua “motinha”. Até os 11 anos, a Pequena Lo conseguia andar, mas depois precisou usar muletas e, agora, a moto elétrica.

Exemplo de superação, ela gosta de fazer piada na internet. Com tanto engajamento, no entanto, ela disse que chegou um momento que teve burnout, doença causada por excesso de trabalho. Em alguns períodos, a Pequena Lo acordava fazendo vídeos e ia dormir produzindo. “Nem tudo são flores nos bastidores”, assume. A principal mensagem que ela passa é de que, independentemente dos obstáculos, é possível conquistar o que se sonha e que o público quer consumir conteúdos leves.

Jurada do Festival Internacional de Cannes enxerga o entretenimento como pilar essencial de negócio

Patrícia Moura é jurada brasileira do Festival de Publicidade de Cannes e head de conteúdo na Gut Foto: RD Summit/Divulgação/JC

Jurada brasileira do Festival Internacional de Publicidade de Cannes Lions (mais conhecido como o Oscar da Publicidade), Patrícia Moura, head de conteúdo da Gut, aponta que 42,7% dos internautas usam bloqueadores de anúncios. O motivo? Interrupção demais por algo que não interessa. A forma de driblar essa reação é entreter, fazer com que as pessoas não queiram fechar a propaganda.

“Quando falo em produzir conteúdo que gere entretenimento, falo de produto e marca como coadjuvantes. Todo mundo quer colocar o logo gigantesco, mas branded content é sobre história”, destacou a especialista. O mercado de entretenimento, detalhou Patrícia, faturou US$ 2,34 trilhões no mundo no último ano. É, portanto, um filão que todos querem abocanhar.

Apostar em entretenimento vai muito além de mostrar as marcas nas redes sociais ou na mídia. Entre as opções que estão sendo aplicadas e bem sucedidas no mercado, estão produção de documentários, filmes ou reality shows. Nomes mundiais como Dove e Doritos se destacaram no festival de Cannes. A primeira fez uma ação de fake news entre mães e filhas e a segunda lançou um clipe musical que era ativado pelo salgadinho. As ideias, conforme Patrícia, devem partir da observação do comportamento dos consumidores.

Legenda foto da capa: “INSPIRAÇÃO –  Boca Rosa começou sua trajetória empreendedora na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, publicando vídeos no YouTube”

Foto: RD Summit/Divulgação/JC

Jornal do Comércio – 16/11/2022.

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