Entre os meses de abril e junho deste ano, a economia gaúcha verificou alta de 2,3% na comparação com o trimestre anterior. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul é superior ao registrado no Brasil no mesmo período (0,9%) e foi puxado pelos números positivos da agropecuária (4,1%) e da indústria (3,3%).
Os dois segmentos no Estado tiveram desempenhos melhores do que o geral do País, que observou uma queda de – 0,9% na agropecuária e um incremento de apenas 0,9% na indústria. A situação se inverte quando o tópico é Serviços, com o Brasil crescendo mais do que o Rio Grande do Sul: 0,6% contra 0,4%. Levando em consideração a evolução do PIB no segundo trimestre deste ano em comparação com o mesmo intervalo em 2022, a elevação no Estado foi de 7,5%, enquanto no Brasil o crescimento chegou a 3,4%. Os números foram apresentados nesta terça-feira (26) pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).
O chefe da Divisão de Análise Econômica do DEE, Martinho Lazzari, destaca que a explicação do maior crescimento da economia gaúcha em relação à brasileira é a performance do segmento da agropecuária. Ele detalha que no Estado os produtos agrícolas que apresentaram o maior incremento no segundo trimestre do ano foram a soja (36%) e o milho (31,8%). O aspecto negativo ficou por conta do arroz, com redução de -8%.
“O desempenho no segundo trimestre do ano mostra que a economia gaúcha voltou a crescer, superando as adversidades causadas por duas estiagens seguidas”, complementa a secretária estadual de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans. Ela adianta que o próximo trimestre deverá ser um novo desafio, uma vez que será impactado pelos efeitos climáticos adversos que resultaram em prejuízos aos municípios gaúchos.
Sobre as perspectivas futuras, Lazzari comenta que a tragédia proporcionada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, principalmente no Vale do Taquari, vai afetar a economia estadual. “A região representa 3,5% do PIB, mas quando a gente olha a produção de suínos e aves é algo em torno de 20%”, afirma o pesquisador. Além disso, mais 11% da contribuição do segmento da indústria alimentícia está localizada no Vale do Taquari.
Lazzari ressalta que houve casos em municípios como Arroio do Meio e Encantado onde fábricas tiveram que parar a produção por causa das enchentes. Ele acrescenta que a indústria calçadista também enfrentou problemas, assim como as áreas de comércio e serviços. A chuva pode ainda ter reflexo, aponta o pesquisador, na área agrícola em culturas como fumo, milho, feijão e arroz, que se encontram no período de plantio, e no trigo, que está na época de colheita.
Já no acumulado do primeiro semestre de 2023, o PIB do Rio Grande do Sul cresceu 4,5% em relação ao período de janeiro a junho do ano anterior, com destaque para a expansão na agropecuária (29,8%) e nos serviços (3%). A indústria apresentou retração de 5,9%. No País, na mesma base de comparação, a economia registrou alta de 3,7% nos seis primeiros meses do ano.
2º trimestre de 2023 x 2º trimestre de 2022
Ainda que tenha sido afetado por nova estiagem no início de 2023, o impacto da falta de chuvas nas lavouras do Estado foi menor do que o registrado em 2022. Com isso, a agropecuária apresentou a maior expansão (44% contra 17% no Brasil) entre os segmentos da economia no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2022. A recuperação na produção de soja (36%) e milho (31,8%) impulsionou a alta nos números.
Na comparação do segundo semestre deste ano com o período de abril a junho de 2022, a indústria foi o único entre os grandes segmentos a apresentar queda no PIB no Rio Grande do Sul (-5% contra alta de 1,5% no País). A redução mais expressiva em termos percentuais foi nas indústrias da área de Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-12,6%), no entanto a principal influência na taxa final do segmento foi a da indústria de transformação, a mais representativa do setor no Estado, com diminuição de -4,8%.
Entre as principais atividades da indústria de transformação, os maiores pesos negativos vieram dos produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-10,3%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-20,3%) e das máquinas e equipamentos (-8,8%). Entre as principais altas estão as atividades de produtos químicos (5,1%), bebidas (12,3%) e produtos do fumo (7,1%). Nos Serviços, a variação foi positiva em 2,6% no segundo trimestre, contra 2,3% do Brasil. Os destaques no segmento foram as atividades de intermediação financeira e seguros (9%), serviços de informação (5,6%) e transportes, armazenagem e correio (3,9%). Os números do Comércio, com queda de -1,3% em relação a 2022, representaram exceção no segmento.
Entre as atividades comerciais, o comércio de veículos foi o principal destaque do período (alta de 25,3%), em que também apresentaram crescimento as vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos de perfumaria e cosméticos (8,2%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%) e material de construção (0,1%). Nas baixas, os maiores impactos vieram das atividades de comércio de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-15,2%), combustíveis e lubrificantes (-6,6%) e tecidos, vestuário e calçados (-13,1%).
Quatro trimestres
Nos números acumulados dos últimos quatro trimestres (do 3º trimestre de 2022 ao 2º trimestre de 2023), o PIB do Rio Grande do Sul apresentou alta de 1,5%. No Brasil, o acumulado chegou a 3,2%.
PIB Gaúcho:
Trimestre comparado ao trimestre imediatamente anterior (com ajuste sazonal)
2º Tri 2022: -3,5%
3º Tri 2022: 4,5%
4º Tri 2022: 0,8%
1º Tri 2023: -0,2%
2º Tri 2023: 2,3%
*Números revisados.
Legenda foto da capa: “Setores da agropecuária e da indústria contribuíram para o resultado”
Luiz Chaves / Arquivo / Palácio Piratini / JC
Jefferson Klein
Jornal do Comércio, edição de 26/09/2023.