Como é a inovação em seis pequenos varejos do Rio Grande do Sul

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O que faz um varejo ser inovador? Esta é sempre a questão radar para muitos negócios que estão tentando se posicionar em meio a um ambiente que reúne três ingredientes: pós-pandemia, custos reajustados e consumidor que está horas no digital (cada vez mais) e minutos escassos (e valiosos) no físico.

A vitrine de 2023 expõe histórias de grandes marcas varejistas que enfrentam o cardápio, com baixas (fechamento de pontos), freada em expansões e revisão interna de processos para encaixar tecnologia e estratégias/ação para atrair clientes.

Se o grande sente o peso, imagina o pequeno? Esta é outra pergunta que se conecta com a primeira. Inovação e pequenos negócios também estão no mercado. A coluna Minuto Varejo elenca seis exemplos de varejos que estão mudando, trazendo novos perfis, buscando conexão com seus públicos, mantendo-se no mercado e até expandindo.


“Capacidade de se manter em movimento e criatividade aguçada colocam os varejistas em condição de inovar”, diz Zortéa

 

 

 

 

 

 

 

Fabiano Zortéa, especialista em varejo do Sebrae-RS, assinala que uma marca da seleção é a capacidade dos empreendedores, mesmo na adversidade de mercado e uma pandemia, de não paralisar: “A inquietação, somada a uma condição de criatividade, traz um cenário muito potente. Criatividade vem com repertório, formado pelas experiências dos lojistas”.

Em comum, os negócios têm imersões na NRF Big Retail Show, em Nova York, com cobertura da coluna por diversas edições. Na metrópole, os varejistas travam contato com modelos disruptivos, que servem de guia, podem ser copiados, até certo ponto, ou adaptados.

“Isso dá uma condição de inovação muito importante”, resume Zortéa.

“O resultado da capacidade de se manter em movimento, mesmo ante uma situação adversa, e criatividade aguçada pelo repertório que faz pensar diferente do usual, coloca estes varejistas em condição de inovar”, rastreia o especialista.

A partir dessa capacidade, o empreendedor adiciona a realidade do seu mercado.

“Ele sabe o que pode ser inovador, o que não é necessariamente sofisticação. Pode ser um jeito diferente na forma de vender e ter algo que ninguém mais tem”, cita o especialista. Outro fator é a rede social:

“Eles não estão sós, têm pontos de conexão, conhecem a realidade um do outro. O pertencimento a uma comunidade conta muito e faz deles lojistas diferenciados”.

Tonolli: app define colchão ideal em 2 minutos

Virgilio (esq.) com o pai Antonio Carlos e Albé: escolha do produto com mais precisão
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC

 

 

 

 

 

 

Como você compra o item em que passa boa parte da vida? “Temos um aplicativo pelo qual a pessoa descobre o colchão ideal em dois minutos respondendo sete perguntas”, garante Virgilio Tonolli, da Tonolli Sono&Saúde, de Caxias do Sul, há quase 50 anos no mercado. O app Trinomio, uma das inovações do negócio comandado por Virgilio e o pai Antonio Carlos, elevou 35% as vendas e reduziu 40% do tempo de atendimento em loja. “Atendemos o cliente da forma mais tecnológica possível”, resume o jovem. “”Tudo baseado em indicação de médicos e quiropraxistas, é um diagnóstico científico do melhor produto. Não é o vendedor que vai vender o que ele acha melhor”, diz o gerente da marca, Adriano Albé. Tecnologia mais expansão: a Tonolli abrirá novo ponto, na região do polo mobiliário, na entrada da cidade. Já a loja da rua Sinimbu terá área interativa, “unindo digital e físico, com experiência”, dá a pista Virgilio.

Brisabela: a loja que virou hub feminino

Juliana mudou o negócio, montou área erótica, adota causas femininas e lançou selo próprio
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC

 

 

 

 

 

 

 

As malas rosas repletas de pijamas, meias e outros artigos íntimos que a varejista Juliana Guterres levava para a casa e empresas atrás de clientes na pandemia, estratégia que salvou a receita da Meia & Cia, de Canoas, na Região Metropolitana, durante a crise sanitária, permanecem como um legado para a agora Brisabela, novo nome do varejo, mas que vai muito além de vender mercadorias. Juliana, que é psicóloga, mudou profundamente o negócio, parte influenciada por inspirações captadas em Nova York, em mais de uma edição da NRF, mas muito pela inquietação da lojista: “Não queremos mais ser uma loja que vende pijamas, roupas íntimas e modeladores. Vendemos autocuidado, empoderamento feminino, conforto, autocuidado”, define Juliana, que pode ser acompanhada nos vídeos Sopro falando, por exemplo, sobre como a mulher pode ter prazer. “Somos uma loja de mulheres para mulheres”, diz um post no perfil da marca no Instagram: @somosbrisabela. A Brisabela virou um hub, tem manifesto, cantinho ao estilo de sexshop, é inclusiva em gênero e idade. Além disso, Juliana adiciona tecnologia, com aposta em ferramentas que geram proximidade e melhoram as vendas. Aliás, em defesa do comércio local e de empreendedores solo, a Brisabela criou o selo “Compre da Ju”.

Pórtico Móveis: escritório do futuro e experiência

Daiane está à frente da empresa familiar e valoriza parcerias de fornecedores e equipes
PÓRTICO MÓVEIS/DIVULGAÇÃO/JC

 

 

 

 

 

 

 

“Em 2023, em meio à turbulência econômica, vamos ter a primeira unidade fora de Bento e escolhemos Caxias do Sul, maior cidade do interior!”, revela a lojista Daiane da Silva, diretora da Pórtico Móveis, focada em ambientes corporativos, que avisa: “Vamos construir uma verdadeira experiência dentro do espaço, é sobre como será o escritório do futuro, é sobre pessoas”, dá a pista Daiane, descartando que futuro é digitalização e outros recursos tecnológicos. A loja no polo de mobiliário no entorno do shopping Villagio Caxias terá muitas parcerias, incluindo uma unidade do café Benevento, de Bento Gonçalves, que desenvolveu bebidas especiais e exclsivas para a Pórtico. “Queremos atrair fluxo”, diz Daiane. No espaço com 370 metros quadrados e dois andares, vai ter estúdio para podcast e outros conteúdos, além de eventos, que já é uma aposta da loja de Bento. “Vamos ter um cworking para validar produtos que serão lançados. Parceria com fornecedores é um dos canais para viabilizar o projeto, diz a lojista.

DaLuz Calçados: customização guia físico e digital

Siliane e Luz montaram estratégia que combina interação digital e ponto físico com clientes
DALUZ CALÇADOS/DIVULGAÇÃO/JC

 

 

 

 

 

 

 

Antes da pandemia, o casal de lojistas Fábio da Luz e Siliane Mühlbeier (a Sili) estava antenado para a emergência do digital no varejo. Veio a pandemia, lojas fechadas, cliente em casa, e os dois tinham ferramentas para buscar o público em outro lugar, em casa. Uma das apostas foi criar conteúdos e levar novidades para as redes sociais, conectando as cinco lojas físicas situadas em Três de Maio, Palmeira das Missões, Santa Rosa, Santo Ângelo e Horizontina, todas na região das Missões. Depois de três anos, a DaLuz Calçados tem a Live da Sili, pela qual a lojista faz semanalmente curadoria de moda, linkando com coleções da rede. Nas lojas, o conteúdo virtual está presente. “Agora o cliente paga a distância com Pix, em vez de pelo carnê, que o levada à loja. A dinâmica mudou e nos forçou a sermos melhor no digital e saber fazer prospecção de venda, o que exige saber o estilo de compra do cliente. O contato é customizado”, descreve Da Luz.

Produspet: Provador de pet? Sim, em Nova Prata, tem

Giaretta viu em Nova York a ideia e implementou na loja usando materiais alternativos
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Fica em Nova Prata, na região gaúcha de imigração italiana, o que pode ser um dos raros ou único provador de pet em loja do segmento no Estado. O espaço, que faz a alegria dos bichinhos, é uma das atrações da Produspet. O dono, Thiago Giaretta, viu a ideia na Reddy, da gigante Pet.Co, em Nova York, na viagem à NRF em 2022. “O que mais impactou foi a entrega de experiência. Isso tem a ver com ação que atenda ao gosto do cliente. Não é só vender um produto. O atendimento tem de ser diferenciado”, observa o empreendedor, citando que foca a busca de melhorias para seu negócio nesta abordagem. O provador foi uma ideia simples, arranjado em um espaço disponível do ponto e sem maiores gastos, reciclando itens da loja. Foi decisiva a oferta de um serviço que gera interação e movimenta o negócio baseado em pets.

Unique: alfaiataria feminina moderna e conectada

Cristiane montou estrutura de operação do físico ao digital em seu negócio de alfaiataria
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Soluções integradas marcam a evolução da Unique Alfaiataria, comandada por Cristiane Boaretto, em Porto Alegre. Cristiane se prepara para estrear nova loja, no começo de agosto, saindo do bairro Moinhos de Vento para o Chácara das Pedras, que vai comportar todas as frentes da marca. Depois de voltar de uma edição da NRF em Nova York, em 2019, quando só se falava na interação do digital e físico, Cristiane começou a integrar a gestão da loja física com site e WhatsApp. Os canais digitais respondem hoje por mais de 60% das vendas O app tem quase a mesma fatia do físico, cita ela. A marca também passou por mudanças, saindo do nicho de uniformes corporativos para a alfaiataria feminina. “Apostamos no conforto e na praticidade dos modelos”, conceitua. “O atendimento é o centro da Unique e é importante entender a jornada da cliente”, destaca a lojista.

Legenda foto da capa: “Tonolli, Daiane, Juliana, casal Siliane e Luz, Giaretta e Bozzetto inovam em seus negócios”

Patrícia Comunello / Especial/JC

Jornal do Comércio, 14/07/2023.

 

 

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