Fundadores precisam ter coragem e estômago para encarar adversidades, diz co-CEO da Cortex

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A região Sul do Brasil é a segunda maior em número de startups, a área concentra mais de 8% das 11.651 startups brasileiras. Os dados são do relatório Inovação em Movimento: um mapa sobre as startups no Brasil em 2023, realizado pela Cortex, referência em inteligência de vendas B2B na América Latina, com apoio da Endeavor.

Outros dados do estudo mostram que Curitiba, a capital paranaense, é a que lidera o ranking de maior número de startups, somando 426 empresas. A segunda é Porto Alegre, a capital gaúcha, com 344. Já Florianópolis, em Santa Catarina, tem 237 startups.

A coluna Mercado Digital conversou com Leonardo Rangel, co-Founder e co-CEO da Cortex, que destaca a relevância das startups para a economia e a sociedade e defende a importância da figura do founder para a consolidação das startups no mercado.

Confira a entrevista completa:
Mercado Digital – Como você percebe o avanço dos ecossistemas de inovação no Brasil, principalmente do ponto de vista do surgimento de novas startups?
Rangel – Se você comparar os dias de hoje com 10, 15 ou 20 anos atrás, é inegável a mudança que a gente vê nos ecossistemas de inovação e startups no Brasil. Naquela época não havia capital de risco disponível para a criação de uma startup. Você financiava com dinheiro próprio ou por meio de programa de governo, como aconteceu no início da Cortex. Mais para a frente, quando levantamos a nossa rodada série A, já existiam alguns fundos de investimento. Na nossa rodada série B, o ecossistema já estava muito mais maduro e isso só tem melhorado desde então. Além disso, vemos também mais talentos. Há 20 anos, o sonho de carreira de um jovem profissional bem formado era fazer concurso público, trabalhar em uma consultoria de alta gestão ou em bancos de investimento. Hoje, você já vê pessoas de grande potencial tendo como ambição de vida empreender e criar sua startup de tecnologia. Esse conjunto de fatores faz com que a gente esteja em um lugar muito melhor, apesar de eu acreditar que ainda existe espaço para o surgimento de mais startups resolvendo tantos problemas que a gente tem no Brasil.

MD – Na sua visão, quais são os desafios para, não só termos mais startups, mas também termos empresas mais fortes, maduras e longevas?
Rangel – Primeiro de tudo você precisa ter a figura do Founder. Pessoas de altíssimo potencial, que estejam dispostas a se aventurarem e empreenderem. Costumo dizer que, para criar uma empresa forte e longeva no Brasil, ele vai precisar aprender rápido, ter coragem para tomar algumas das decisões difíceis e estômago para enfrentar as adversidades que vão surgir. Em segundo lugar, tem que ter capital para desenvolver soluções de alto potencial. Quanto mais fundos de investimento e mais capital disponível para investir nessas empresas, melhor. Olha só o que aconteceu quando o SoftBank e outros fundos internacionais perceberam o potencial e começaram a investir na América Latina. Olha quantas empresas fantásticas foram criadas de lá para cá. Por último, você precisa de talentos. Para ter uma startup de sucesso, você precisa buscar os melhores cérebros. E que bom que hoje muitos se interessam por seguir carreira em uma startup por enxergarem um ambiente mais dinâmico e desafiador.

MD – O cenário econômico de menos investimento de risco em relação a 2021 ainda preocupa ou o mercado já se preparou para isso?
Rangel – Realmente o ano de 2021 foi um ano de muita euforia e eu acredito que não vamos voltar para aqueles patamares tão cedo, se é que vamos voltar. Um dos fatores críticos para criar startups é fazê-las crescerem rápido e o que boas empresas que poderiam estar crescendo mais rápido estão tendo que fazer agora é colocar o pé no freio por conta dessa escassez de capital, já que é muito difícil conseguir crescer rápido apenas com os lucros obtidos ano a ano. Então, de certa forma é preocupante, porque as empresas estão reduzindo suas taxas de crescimento, reduzindo investimentos, diminuindo o número de pessoas nas suas áreas-chave e tendo que postergar investimentos em projetos de inovação. Também vejo um lado positivo, porque é uma forma de as empresas ficarem saudáveis e independentes, sem precisarem mais de investimento no curto prazo. Se depois o mercado voltar a ter mais investimento, maravilha! Mas tudo isso tem um custo: taxas de crescimento mais baixas e, provavelmente, o surgimento de um número menor de novas empresas inovadoras.

MD – Como você avalia o mercado de investimentos no Rio Grande do Sul? Que tem crescido nos últimos anos, tanto que passou a ser sede da South Summit Brazil.
Rangel – O Rio Grande do Sul concentra 27 Polos Tecnológicos e tem uma de suas universidades (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), 8º lugar no ranking das melhores universidades do Brasil, de acordo com o QS World University Rankings, uma lista de melhores instituições de ensino superior do mundo elaborada pela empresa britânica Quacquarelli Symonds. Então eu vejo como algo natural o surgimento deste tipo de atividade econômica na região, porque você tem fomento à inovação somado a jovens profissionais bem formados, com ambição de carreira e boas iniciativas. Isso tende a atrair investidores interessados nas empresas que surgem na região.

MD – Sobre a alternância entre as capitais do Sul com maior número de startups, que antes era Porto Alegre e, agora, é Curitiba, como você avalia isso?
Rangel – Acredito que o ecossistema Vale do Pinhão tenha contribuído para o surgimento de novas empresas em Curitiba, mas o aumento de empresas em um estado ou cidade não significa, necessariamente, que a outra perdeu força. Muito pelo contrário, o sucesso de uma empresa da região tende a gerar um efeito motivacional positivo para outras cidades e para a região como um todo. Por natureza, as startups têm uma probabilidade muito pequena de se tornarem um mega sucesso, mas quando isso acontece, costuma ser estrondoso. É por isso que se chama capital de risco. Tem alguns casos em Curitiba que se encaixam muito bem nesse cenário, como Ebanx, Olist e Pipefy, por exemplo. Isso causa um efeito multiplicador, porque pessoas que trabalharam nessas startups saem para criar as suas próprias empresas, esses empreendedores que já conseguiram acumular um patrimônio investem como anjos, em outras startups, o que é natural acontecer em um círculo mais próximo. Ou seja, tem um efeito multiplicador muito forte.

Legenda foto da capa: “Rangel diz que empresas precisam ficar saudáveis e independentes” – Raphael Monteiro / Cortex / Divulgação / JC

Jornal do Comércio, edição de 12/06/2023.

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